Bebê nasce morto após negligência de hospital em Cabo Frio e é enterrado como indigente sem autorização da família

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A família de Renato Barbosa Machado, de 26 anos, e Daniele da Silva Machado, de 23, está indignada e pede Justiça depois que o filho do casal nasceu morto no último sábado (6), no Hospital da Mulher de Cabo Frio.

Arthur da Silva Barbosa Machado ainda foi enterrado como indigente e desenterrado para que a família pudesse vesti-lo e fazer um sepultamento digno.

Bebê, que nasceu morto em Cabo Frio, foi desenterrado para a família colocar a roupa nele

Para os pais da criança, houve negligência dos médicos que se negaram a fazer o parto ao longo da semana, quando eles buscaram atendimento e os especialistas diziam que não estava na hora do bebê nascer.

“O neném lutou, lutou, lutou ali para vir ao mundo e ele [médico] não fez a cesárea nela, entendeu? Ele [o bebê] tava colado, quando eles [os médicos] tiraram ele, o neném, nem chorar chorou. O meu filho nasceu morto” , disse Renato.

Segundo o marido, Daniele teve uma gravidez saudável e passou por todo o processo de pré-natal. Na semana passada, começou a sentir dores e procurou o Hospital da Mulher.

Renato informou também que eles buscaram atendimento duas vezes no Hospital Missão de São Pedro da Aldeia, onde além de terem ouvido que a mulher não estava em trabalho de parto, também foram informados de que a unidade não poderia interná-la já que ela era moradora do município vizinho.

Ainda de acordo com ele, em ambos os locais, ouviu que deveriam esperar, mesmo com Daniele sentindo muita dor e já tendo completado as 42 semanas de gestação.

Depois de muita insistência, ela foi internada no Hospital da Mulher por volta das 23h de sexta-feira (5) e passou pela cesárea na manhã de sábado.

“Eu estaria com meu filho nos braços agora se eles tivessem feito o parto na hora certa”, afirma Renato.

No atestado de óbito, consta que o bebê morreu após sofrer uma parada cardiorrespiratória, anoxia uterina e infecção amniótica.

Suspeita de descaso
A mãe de Daniele, Neli da Silva, retratou ainda a maneira rude com que o médico tratou a filha.

“Nós pedimos que fizessem a cesárea porque a minha filha estava sentindo muitas dores. O médico ainda teve a audácia de falar o seguinte: ‘Quem sabe a hora de nascer é Deus e não você. A criança vai nascer igual a um pit-bull porque você está toda nervosinha aí'”, revelou Neli da Silva.

Renato contou que a falta de sensibilidade não parou por aí. Depois de perder o bebê, Daniele ainda foi transferida para um quarto do hospital com outras mulheres que tinham acabado de ter filho.

“A minha esposa olha para o lado e não vê o bebê que a gente tanto esperou. O peito dela ainda está com muito leite, que precisa ser retirado. Minha filha de 5 anos também sofre pela perda do irmãozinho. A criança estava perfeitinha”, lamenta Renato.

Silvania Sousa Barbosa, avó paterna do Arthur, também manifestou a indignação com a falta de responsabilidade do médico. “Nós não queremos dinheiro, queremos justiça pelo meu neto e por todos os outros bebês que já morreram naquele hospital”, disse.

“Isso não é justo com ninguém. Eu quero solução para este problema. Eu exijo que tudo seja resolvido pelas autoridades. O médico que fez isso tem que parar de trabalhar. Ele nem serve para trabalhar como veterinário porque nem cachorro merece ser tratado do jeito que a minha nora foi”.

Enterro
Os transtornos para a família continuaram no dia seguinte. Segundo Renato, enquanto ele estava resolvendo todos os documentos necessários para registrar e enterrar o filho, descobriu que a criança já havia sido sepultada no cemitério do bairro Jardim Esperança.

Renato contou que ligou para o hospital para avisar que não poderia enterrar o filho no horário previsto e foi aí que descobriu que todo o processo já tinha sido feito e que o Arthur havia sido sepultado do jeito que saiu do hospital.

“O meu filho foi enterrado como indigente. Nem a roupa que tínhamos separado para ele usar, assim que saísse da maternidade, foi colocada nele. Ele foi enterrado enrolado em um pano!”, lamentou o pai.

Inconformada com a situação, a família foi ao cemitério, onde a criança foi desenterrada e os parentes colocaram a roupa nela, que foi sepultada novamente.

Diante de tudo que enfrentaram, pais e avós do Arthur voltaram indignados ao hospital e jogaram as cadeiras para o alto dentro da unidade.

Investigação
Desde novembro do ano passado, 26 recém-nascidos morreram na unidade e os óbitos são investigados por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e outra CPI na Câmara Municipal de Cabo Frio.

Por meio de nota, a Prefeitura de Cabo Frio disse que tem total interesse em que os casos de óbito sejam esclarecidos e que está colaborando com as autoridades para elucidar os mesmos. Veja a resposta na íntegra abaixo.

Respostas
A Secretaria de Saúde de São Pedro da Aldeia também enviou uma nota dizendo que solicitou mais informações à direção do hospital sobre a paciente citada e afirmou que segue aguardando os esclarecimentos.

O órgão disse ainda que a gestão da unidade não é da Prefeitura aldeense, trata-se de um hospital filantrópico, classificado como hospital geral e com convênio municipal.

A secretaria destacou também que a gestão pública aldeense preza pelo melhor atendimento para a população.

O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) informou na tarde desta segunda-feira (8) que irá apurar todos os fatos os ocorridos.

Já a Polícia Civil disse que diligências estão sendo realizadas e as investigações estão em andamento. A reportagem também tenta contato com o médico.

Nota da Prefeitura de Cabo Frio na íntegra

A Secretaria de Saúde informa que o procedimento padrão em caso de morte de recém-nascido foi cumprido. O Hospital da Mulher emitiu a certidão de óbito para a família, que foi ao cartório pegar a guia de sepultamento – a mesma foi entregue à funerária.

O procedimento padrão requer que esta guia seja apresentada de novo a unidade de saúde, para que o corpo seja liberado. Assim foi feito; só que neste caso, os representantes da funerária é que foram requerer o corpo. O sepultamento não é de responsabilidade do Hospital e sim da funerária.

É importante ressaltar que nos colocamos à disposição dos familiares para esclarecimentos e somos solidários à dor da perda. Mas não podemos apoiar ações que depredem o patrimônio público e coloquem em risco servidores e até pacientes que estejam na unidade.

Na noite de ontem, um grupo invadiu o hospital, promoveu um ‘quebra-quebra’ na recepção e, inclusive, temos relatos da recepcionista que afirma que levou um soco de um dos integrantes do grupo.

 

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