Intolerância religiosa, étnica e de gênero são temas de exposição em Rio das Ostras

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“A busca individual de cada um, para a paz ou tempestade, pode ou não ser inerente à espiritualidade”. Foi com esta frase, proferida por uma amiga, que a artista plástica Lilian Vieira passeou por suas inquietações e deu corpo às telas que compõem a exposição “Nós”, retratando a intolerância religiosa – não a fé particular, mas a institucionalização da mesma -, de gênero e étnica. A mostra, com entrada franca, é aberta ao público a partir de sexta, dia 25, até 7 de junho, na loja Artmanha, no centro de Rio das Ostras.

“Nós”, lendo ao contrário, em letra de máquina, vira “Sou”. “Sou o Nós”, se traduz a artista.Com uma bagagem cheia de leituras, músicas, cores, texturas e recortes, que vem de uma longa experiência, Lilian Vieira imprimiu em 13 quadros, ícones de fortes representações pessoais e do profundo estudo sobre religião e religiosidade. “Minha inspiração veio de provocar uma reflexão para aonde estamos caminhando e como temos lidado com as diferenças, tão representadas nos labirintos expostos nas telas. Os negros, por exemplo, são os que mais morrem assassinados e, por meio de pesquisas, descobri que as religiões de raiz africana são as que mais sofrem preconceito – cerca de 73%”, relata a pintora, que é formada em artes pelo Parque Lage e fez parte da Associação de Artistas Plásticos de Campos dos Goytacazes.

TELAS – Cartas e naipes de baralho, tinta acrílica misturada ao papel sobre tela, cordões e triângulos de cores e tamanhos variados, geometria do feminino, como bem Lilian se inspirou em seus mestres, Aluísio Carvão e Carlos Scliar. Tudo isso junto com símbolos representativos das entidades da Umbanda, como o machado e a seta. Seja o vermelho, o amarelo, o azul ou o verde, as fortes cores estão lá, convidando para a reflexão.

A recente morte por assassinato de Marielle Franco (Psol-RJ) também é tema de um quadro que Lilian expressou a luta da vereadora pelos moradores de comunidades e da busca pela igualdade da mulher e da população negra.

CURADORIA – A literata e curadora da exposição, Analice Martins, tem a refinada sensibilidade sobre a obra de Lilian. Para ela, “Nós” é um autorretrato da trajetória da pintora, que mostra sua bagagem musical e de leituras do cotidiano desmaterializando traços e cores originais “para codificarem um ‘mundo’ onde tons, letras como signos gráficos e fragmentos de textos são conduzidos por setas que ora alinhavam, ora desnorteiam sentidos nem sempre tão à vista. Estão lá, no entanto, o feminino, o corpo, a rua, a intolerância étnica e religiosa, as inquietudes existenciais e as forças da criação artística”.

Analice ainda conta que “dizer que a cor é o signo específico da pintura pode não ser uma questão consensual, mas é com ela, muito particularmente, que Lilian Vieira tem construído (…) uma poética própria que dá forma às suas ideias-labirinto. Sempre muito vivos e fortes em todas as suas telas, o azul, o verde, o vermelho e o amarelo são, nessa exposição de agora, um grito de enfrentamento à dura realidade que nos circunda. Resistir pelas cores e sem lugares-comuns não é tarefa para iniciantes, coisa que definitivamente Lilian Vieira não é”.

SERVIÇO:

Exposição NÓS
Artista Lilian Vieira

Local: Artmanha – Avenida Amaral Peixoto, 5578, Centro, Rio das Ostras.
De 24 de maio a 7 de junho

Entrada franca
Contato: (22) 9993-4928

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