Por Bernardo Ariston
A Região dos Lagos se tornou, nos últimos anos, um dos principais pólos estratégicos do turismo fluminense, responsável por atrair milhões de visitantes, movimentar a economia e capaz de projetar o Rio de Janeiro como um destino turístico mais relevante. Em um estado que luta há décadas para reorganizar sua economia e recuperar protagonismo nacional, ignorar o peso dessa região seria um erro, técnico, político e estratégico, de avaliação.

A força turística da Região dos Lagos é evidente a cada temporada. Em períodos de alta, cidades como Cabo Frio, Búzios, Arraial do Cabo e Saquarema recebem multidões vindas de diversos lugares, gerando um fluxo de visitantes que poucos destinos brasileiros fora das capitais conseguem alcançar. Búzios segue entre os lugares mais desejados do país, Arraial do Cabo consolidou-se como referência internacional de mergulho e águas turquesas e Saquarema transformou-se na capital nacional do surf, projetando o estado globalmente através de grandes eventos esportivos. Tudo isso forma um corredor turístico singular, combinando praias icônicas, gastronomia, esporte, cruzeiros, natureza, vida noturna e infraestrutura crescente.
Esse dinamismo se traduz em impacto econômico real. O turismo é uma das atividades que mais geram emprego e renda na região, influenciando diretamente setores como hotelaria, alimentação, transporte, comércio e entretenimento. Em toda a região, o turismo é componente fundamental do PIB local. A infraestrutura regional reforça essa vocação: Via Lagos, Aeroporto Internacional de Cabo Frio, marinas, terminais de cruzeiros, expansão imobiliária e a proximidade com a Região Metropolitana e a BR-101 criam um ambiente propício para a circulação permanente de visitantes.
A realidade sempre traz consigo desafios que não podem ser ignorados. A escalada do turismo de massa desorganizado é hoje uma das maiores ameaças à própria sustentabilidade do destino. Feriados prolongados e verões superlotados vêm pressionando além do limite a infraestrutura urbana, travando ruas, sobrecarregando abastecimento de água, expondo a fragilidade do saneamento, aumentando o lixo nas praias e elevando o custo de vida do morador local. A informalidade explode, a ocupação desordenada cresce, e a especulação imobiliária empurra famílias de baixa renda para áreas cada vez mais afastadas. É um modelo que gera riqueza no curto prazo, mas que, sem gestão, produz desgaste, conflitos e perda de qualidade ambiental.
O turismo de massa também altera a relação entre o morador e sua própria cidade. Quando a sensação local passa a ser a de “cidade tomada”, o ciclo econômico se torna perverso: cresce o faturamento empresarial, mas diminui a qualidade de vida, aumentam os problemas sociais e se cria uma divisão simbólica entre quem vive e quem visita. Se nada for feito, a Região dos Lagos corre o risco de repetir erros de destinos internacionais saturados, onde a experiência do turista cai, o morador se afasta e o destino perde valor.
Paralelamente, há um elemento estratégico que reforça ainda mais a relevância da região para o Rio de Janeiro: a ampliação do tempo de permanência do visitante. O turista que chega à capital para conhecer seus ícones, Cristo Redentor, Pão de Açúcar, Maracanã, raramente retorna para casa sem passar alguns dias em Cabo Frio, Búzios ou Arraial do Cabo. Isso significa mais diárias de hotel, mais refeições, mais compras, mais transporte, mais impostos, mais emprego. O Estado inteiro ganha. Sendo assim, proteger a qualidade da experiência na Região dos Lagos é proteger a imagem turística do Rio de Janeiro como um todo.
É por isso que a discussão precisa ultrapassar o improviso e se transformar em política pública de longo prazo. O Estado e os municípios devem tratar a Região dos Lagos como um eixo estratégico, não como um somatório de cidades isoladas. É preciso coordenar ordenamento urbano, plano de uso das praias, limites de carga ambiental, gestão integrada de resíduos, mobilidade, regulamentação de aluguel de temporada, qualificação profissional e investimento contínuo em saneamento básico.
A Região dos Lagos é um dos poucos lugares do Brasil com potencial real para ser referência internacional em turismo de natureza, esporte, gastronomia e qualidade de vida. Mas isso só acontecerá se desenvolvimento e preservação caminharem juntos. Crescer não significa abrir mão do equilíbrio, significa planejar, organizar e promover um turismo que respeite o ambiente, beneficie o morador e encante o visitante.
O futuro do turismo fluminense depende da visão que tivermos agora. O Rio de Janeiro não termina no Pão de Açúcar, ele se estende pela Praia do Forte, pelas águas azuis de Arraial, pelas pousadas de Búzios, pelo surf de Saquarema, pelas lagoas de Araruama e Iguaba, pelo potencial náutico de São Pedro da Aldeia, é um patrimônio natural, econômico e cultural que precisa ser tratado como prioridade.
Se houver planejamento, responsabilidade e coragem para enfrentar a lógica predatória do turismo de massa, a Região dos Lagos pode e deve liderar uma nova fase de desenvolvimento no Estado do Rio de Janeiro. Um desenvolvimento que respeite quem vive, valorize quem visita e coloque o Rio de Janeiro novamente no centro das referências globais de turismo sustentável, competitivo e socialmente justo.

