Opinião: Saúde pública é refém de grupos privados


Bernardo Ariston

A fila do sistema de regulação do Estado do Rio tem mais de dez mil pessoas a espera de uma consulta, exame ou cirúrgia. Invisível, reúne cidadãos de todos os municípios fluminenses, ignorados pelas autoridades públicas. A dor de cada um é transformada em letras e números, num ranking vergonhoso. Um sistema covarde que revela a falta de investimentos e a situação precária da saúde, não só do Estado mas, também, nos municípios, onde a falta de investimentos no serviço público é uma ação orquestrada para beneficiar grupos privados.


Um levantamento rápido na Central de Regulação, na internet, mostra que a fila de espera para a realização de um exame de cateterismo cardíaco ambulatorial tem 1.358 pessoas. A fila para cirúrgia torácica tem 281 pacientes lutando pela vida e tentando sobreviver a burocracia. Quem sofre de problemas de coluna e precisa de uma ressonância magnética vai enfrentar uma fila com 118 pacientes. É triste constatar que 1.078 crianças aguardam por uma simples cirurgia urológica.


As iniciais de cada nome que figura no ranking do sistema de regulação revela o desprezo e o desmonte da saúde na base, nos municípios. O problema não é dinheiro. Os municípios da Região dos Lagos, onde a saúde pública se mostra mais precária, arrecadaram, só com royalties de petróleo, de janeiro a dezembro do ano passado, quase R$ 3 bi. Em números exatos, o repasse da Agência Nacional de Petróleo (ANP) somou R$ 2.943.376.239,02.

O rompimento da Secretaria de Saúde de Cabo Frio com a COTREL, após a demissão do principal sócio da empresa, o ortopedista Flávio de Carvalho Silva, que tinha duas matrículas – uma de 2017 e outra de 2021- na secretaria de saúde para atendimento pelo SUS, com salário de 20 mil Reais, mensais, revela a face mais perversa de um sistema que faz a saúde pública refém de grupos privados, em detrimento do atendimento ao cidadão.

A COTREL controla o serviço de ortopedia do município desde o governo Alair Corrêa. A empresa substituiu a Clínica São Marcos, que detinha o controle do serviço até a briga política do então prefeito com o aliado Marquinho Mendes. O rompimento, agora, de acordo com o secretário de Saúde, Jânio Mendes, é devido a uma série de reclamações no atendimento. Ele anunciou a exoneração de outros sete médicos ligados a COTREL até março e a implantação do setor de ortopedia no Hospital São José Operário e acusou os médicos ligados ao grupo privado de privilegiar o atendimento particular em detrimento do público.


A Saúde tem muito que avançar para que o cidadão não só da região mas de todo o Estado tenha respeitado o direito Constitucional a uma saúde pública de qualidade. A UPA de Tamoios não pode ser o único serviço para a população do Distrito e Cabo Frio. É inaceitável que o Hospital de Barra de São João continue fechado. A população de Araruama precisa do Hospital de São Vicente de Paulo aberto. É uma vergonha que um exame ou consulta na região leve dois, três, seis meses para ser marcado. Vergonha maior é o silêncio de vereadores, deputados, Conselhos de Saúde, movimentos sociais. Estado e municípíos não podem continuar financiando grupos privados em detrmento da saúde pública.

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