Peixe Seco com Banana, uma receita de Arraial do Cabo, vence concurso de culinária internacional

Peixe Seco com Banana, uma receita de Arraial do Cabo, não só representou a cidade como também conquistou o título de campeã no concurso “Saberes e Sabores”, que aconteceu no ano passado durante a Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP). Elaborada por Zenilda Maria da Silva, e inscrita pelo professor de gastronomia Fernando Melo, o peixe com banana venceu na categoria “Saberes Gastronômicos”.

O concurso faz parte da campanha “Mulheres com Direitos” e contou com a participação de mulheres de nove países da América Latina e do Caribe. As melhores receitas e empreendimentos, que usam técnicas sustentáveis em sua composição – ou seja, com o menor dano possível a ser provocado ao meio ambiente – são premiados.

De acordo com Fernando Melo, esse reconhecimento comprova a relevância do peixe salgado na história e cultura de Arraial do Cabo, assim como a importância do papel das mulheres na cadeia alimentar. “Pessoalmente, como cabista e professor de gastronomia, é uma alegria sem tamanho ver o nosso prato emblemático ser reconhecido internacionalmente. Fiz uma pesquisa para o mestrado que gerou um livro sobre a culinária local e serviu de base para esse projeto. Quem sabe essa premiação não sirva de estímulo para a revitalização da salga de peixes e aumento da oferta do prato nos restaurantes da cidade como um atrativo turístico” comentou Fernando, também organizador do Festival Gastronômico de Arraial do Cabo.

História da receita:
O peixe dessa receita é pescado de maneira artesanal. O arrasto na praia é feito por canoas a remo e as redes de pesca foram tecidas pelos próprios pescadores. Atualmente são feitos de nylon e bóias de cortiça industrializadas, mas antes dos anos 50, aproximadamente, eram feitos com fios de algodão ou cipó-imbé, tingidos com murici ou aroeira e com bóias araticum. Todas essas plantas foram extraídas da vegetação local.

Apesar das inovações tecnológicas dos elementos de pesca, a prática preserva elementos originais como a propulsão de remo de canoas e os sinais emitidos pela vigia de pesca, que está posicionada no topo de uma colina, e orienta outros pescadores das canoas. Estes sinais são feitos com a ajuda de um pano branco e indicam o tipo de peixe e os movimentos a serem feitos, como quando jogar a rede no mar e puxá-la. Todo esse processo cria uma relação direta entre o homem e o meio ambiente, respeitando o ciclo natural e promovendo a gestão sustentável dos recursos.

A salga aumenta a vida de prateleira do peixe e, com o uso de sal natural da região, um preparo feito com produtos frescos e sem conservantes químicos é alcançado. Os outros ingredientes, muitas vezes, vêm de culturas de subsistência. As relações econômicas e sociais que afetam a pesca: a limpeza, a salga de peixes, o comércio e a preparação, baseiam-se na integração da unidade familiar, com a divisão do trabalho entre todos os membros e no aumento da renda. A combinação de peixes, ricos em ômega 3, com outros ingredientes de produções familiares, pode ser a razão da longevidade e lucidez de muitos membros da comunidade, ao longo de 80 anos.

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