O biólogo Carlos Simas
, especialista em vetores, em entrevista nesta terça-feira, dia 30, falou sobre a Febre Amarela na nossa região. Em Cabo Frio, 2.057 pessoas foram vacinadas durante o Dia D da Campanha Estadual de Vacinação contra a Febre Amarela, realizado no último sábado com aplicação da dose integral. Carlos explicou os sintomas da doença, quem deve vacinar e afirmou que o país não está preparado para uma epidemia.
JS – O que fazer diante dessas notícias de aumento de Febre Amarela?
CS – O momento ele é, no mínimo, preocupante. Eu acho, como biólogo, que já tem uns anos que estamos no controle dessas pragas e o momento é de atacar o problema em si. O que os governos vêm fazendo: vacinar todas as pessoas e, principalmente, aquelas que estão em área de risco. O ideal era que tivesse tido a prevenção.
JS – Estão falando que o Estado falou na questão da Febre Amarela, procede?
CS – Procede. Principalmente quanto à cobertura da área da vacina. A história da epidemia da Febre Amarela vem do século XVII. Já em 1903, o sanitarista Oswaldo Cruz foi designado a fazer um trabalho no Rio de Janeiro contra a epidemia gigante. A Revolta da Vacina, que muitas das vezes tinham que vacinar as mulheres e era nas nádegas, então, os maridos ficaram desesperados, deu um problema gravíssimo. Os mata-mosquitos entravam nas casas. E de lá para cá a falha é essa. O vírus ele continua circulando na mata. Então, falhou quanto à prevenção, depois a “cerca arrombada”, busca-se a vacinação real para se evitar um grande surto.
JS – A Dengue também já era para ter sido erradicada?
CS – Os países nos vêem como acomodados. Pois, pelos séculos que vem acontecendo, já era para ser isolado o vírus, pelo menos. E cada ano que passa a gente vê mosquitos fazendo estragos.
JS – Como está a campanha em Cabo Frio
?
CS – O trabalho tem sido muito sério e responsável. Os agentes de saúde de Cabo Frio são pessoas muito devotadas, estão no dia a dia visitando as pessoas, fazendo campanha. Sou do Ministério da Saúde, moro em Búzios, e lá também está de parabéns.
JS – Nós estamos em uma área de risco?
CS – A Organização Mundial da Saúde recomendou que os turistas que tivessem cuidado na vinda ao Brasil. O Ministério da Saúde pediu que os 92 municípios do Estado do Rio de Janeiro tornassem uma área vacinal, como se fosse de risco.
JS – Mas a prefeitura vem alertando que não precisa correr aos postos, é para não haver tumulto?
CS – Sim, pois não estamos diretamente na área de risco. Há uma preocupação, é bom que todos se vacinem, vão aos postos de saúde de forma tranqüila. As pessoas vão para a serra e outras vêm para cá. O vírus circula.
JS – Quais são as manifestações da doença em fases brandas?
CS – Febre intermitente, calafrios, falta de apetite, fraqueza. Tudo isso, pode ser confundido a outras doenças, nos primeiros sintomas corram a um posto de saúde. Na fase mais aguda, depois do terceiro dia, a pessoa tem até 24h de aparente tranqüilidade, mas a partir daí que vem uma hemorragia muito profunda. Aparece a amarelidão. A partir daí, maior parte dos casos, evoluem para morte. 15% levam a forma fatal.
JS – Alguns falam que tem reação alérgica a vacina. É verdade?
CS – Infelizmente é verdade. Quem tem alergia a ovo não deve tomar a vacina. Idosos depois dos 60 anos. Grávidas podem ter hemorragias. Pessoas que fazem tratamento para câncer, precisam antes consultar o médico. É uma vacina bem segura, mas, nesses casos, deve consultar o médico antes.
JS – A rede pública do país está estruturada para diagnosticar e tratar da doença?
CS – A resposta é não. O sistema de saúde brasileiro está falido. Deus que nos livre da epidemia da Febre Amarela ou será como em 1903. Os pesquisadores entendem que é pouco provável, mas não é impossível uma epidemia da Febre Amarela.