Opinião: O rei está nú

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Bernardo Ariston

Os turistas estão fugindo das nossas praias. Apesar das paisagens exuberantes, das águas cristalinas e do sol, que reina absoluto praticamente o ano inteiro, num destino capaz de proporcionar aos mais exigentes dos viajantes uma experiência inesquecível, o turismo que vem se enraizando na região, há 30 anos, é o turismo de massa.

Infelizmente os políticos da região ignoraram, não deram atenção e não se debruçaram, naquele momento, para planejar o novo paradigma do desenvolvimento econômico regional pelo viés da indústria do turismo. Só se enxergavam os Royalties do petróleo, o turismo de excelência, apesar do destino ser deslumbrante, foi renegado e só eram valorizadas ações populistas e imediatas que o farto recurso do petróleo podia pagar.

Aquele foi um momento onde a população foi enganada, a impressão era que tudo estava mudando com a chegada e abundância do ouro negro. Tudo era possivel, shows, eventos, fogos, gratuidades, beneficios e outras benesses. Foi um período que parecia fértil, pois aparentemente abriam-se portas para a prosperidade, contudo, se olharmos para trás, não passou de uma triste e curta realidade, pois hoje entendemos melhor o que de fato estava acontecendo e lamentamos o mal uso dos recursos sem o devido planejamento para a construção de um legado e sem o devido uso em projetos estruturantes para o futuro. Omitiu-se a verdade, os Royalties eram finitos, um dia iriam diminuir até acabar. Era a implantação da conhecida política do pão e circo dos antigos Romanos, em pleno século XX.

Todavia, é imperativo afirmarmos, que os resultados dessa inobservância com a estruturação de uma indústria turística de alto nível vem se transformando em pesadelo. A ausência de políticas públicas efetivas e a falta de compromisso com o futuro da região permitiram o crescimento retumbante do turismo de massa. A atividade turística foi crescendo sem critério e sem medida, nivelada por baixo, nivelada por um público que não iria contribuir para a consolidação da atividade como mola propulsora das cidades e da economia local.

O turismo de massa, no caso da região dos lagos, considerando a falta de planejamento, a falta de visão sobre o futuro, a falta de compromisso com o povo, com a história, com a natureza local e principalmente com o potencial regional não contribuiu para que o turismo local se tornasse efetivamente uma atividade econômica libertadora e definitiva. Todo mundo sabe da importância do turismo para o desenvolvimento socioeconômico, principalmente num lugar icônico e exuberante como a região, todo mundo pode até dar aula sobre esse tema, mas é fundamental entender que os políticos locais, aqueles que muitas vezes se colocaram como “Salvadores da Pátria” são os verdadeiros culpados por não viabilizar e construir esse paradigma, pois sempre agiram como gafanhotos da coisa pública e sempre foram imediatistas, mantendo seus interesses pessoais e políticos a frente do interesse coletivo. Para eles mais interessou e interessa o caos urbano do que a ordem, pois o caos é garantidor de políticas assistencialistas e do voto certo do “favorzinho”, na medida em que a ordem não interessa porque sempre tende ao equilíbrio da sociedade e gera oportunidades mais justas e mais palatáveis ao coletivo.

A irresponsabilidade, a inexistência de políticas públicas de turismo e a desorganização já estão refletindo no bolso de muita gente que investiu na região e está vendo a cada ano o turismo minguar. A região que recebia turistas para passar uma quinzena ou um mês nas férias de verão não existe mais. O movimento, mesmo no verão, está limitado aos fins de semana. A massa popular, desembarca aos borbotões carregando seus colchões, coolers, cadeiras de praia e tudo mais para ter o mínimo de gasto no acampamento de férias, pois encontrou terra fértil e deslumbrante para exercer seu direito de lazer, sem ter que contribuir efetivamente com a economia local. Óbvio que todos são iguais perante a lei, que todos tem o direito de ir e vir, de se divertir, de ir a praia, de ter lazer, mas do ponto de vista do desenvolvimento de uma região com o potencial turístico da região dos lagos o planejamento da atividade é essencial para garantir o equilíbrio sócio econômico da atividade em si.

Do jeito que a atividade foi conduzida pelo poder público, sempre no improviso e no jeitinho, a região, turisticamente falando, virou terra de ninguém, embalada pelo axé e pelo funk proibidão, onde se vende quentinha nos principais cartões postais das cidades, ou seja, nas praias paradisíacas da região, além de dezenas de outros badulaques que transformam a areia numa feira de Bagdá. Além das quentinhas é comum churrascos e toda sorte de comidas sem fiscalização sanitária à beira mar e as constantes pancadarias generalizadas dentro dos barcos de passeios e nas ruas. São as imagens lamentáveis que ganham as redes sociais no verão da região e que infelizmente são espalhadas mundo a fora.

A triste agonia do turismo, atualmente, é fruto de uma política autofágica, retrógrada e baseada em um falso moralismo tóxico. Chega ser cafona e mesquinho, basta observar, o contexto do poder local, o legado das famílias tradicionais, bem como a formação dos grupos políticos, da ditadura pra cá. Tudo é fruto de pensamentos, escolhas e projetos populistas, sem visão do coletivo e de futuro, o pior, de uma forma minúscula de gerir a coisa pública.

Ao longo das últimas cinco décadas, um modus operandi menor, influenciado pela facilidade do uso da máquina pública em benefício de uns e em detrimento de muitos, atravancou o processo de crescimento e de desenvolvimento sócio econômico da região. Nunca houve preocupação em pensar o futuro da cidade, muito menos em valorizar o solo, o povo e a História.

O descompromisso com o todo desvirtuou o orgulho local. As cidades da região foram e continuam sendo, em grande parte e em muitos momentos, geridas de forma mesquinha. Ninguém olhou para a região como local estratégico e de grande importância para a geopolítica do Estado. Não faltou apenas visão do todo, faltou atitude, faltou olhar pra frente e faltou vontade de fazer. Faltam cabeças. Os governos são desertos de projetos e ideias. Gestão após gestão seguem limitadas.

A região é linda, tem tudo pra se destacar, tem um potencial incrível, mas está sendo carcomida de dentro para fora. As mudanças, pasmem, são para pior, a região cresce, mas os indicadores estão sempre apontando para baixo, o crescimento é muito mais na horizontal do que na vertical, é um crescimento lateral, que não demonstra força, apenas tamanho. O desenvolvimento negativo não gera riqueza, empregos, nem muda a vida das pessoas para melhor.

É preciso dar um basta na cultura da mediocridade que vem atrasando o desenvolvimento dos municípios e provocando a fuga de turistas capazes de fazer a riqueza circular efetivamente na região mas, para isso, é preciso um olhar crítico, é preciso levantar do berço esplêndido e ser capaz de enxergar que o Rei está nu.

Bernardo Ariston

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