Pescadora relata preconceitos e desafios de viver da pesca em São Pedro da Aldeia  

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A pesca é uma atividade predominantemente masculina, mas há mulheres que desafiam essa realidade todos os dias, como é o caso de Irani Sampaio, de 38 anos, que nasceu em uma família de pescadores de São Pedro da Aldeia.

Os pais de Irani tiveram sete filhos, sendo três mulheres e quatro homens. A mãe dela já faleceu, mas a pescadora lembra que sempre teve muito amor entre eles. 

Irani disse que aos 9 anos já chorava para ir pescar com o pai. Hoje, ela é uma pescadora profissional e se orgulha de ter conseguido sua carteira de pescadora profissional em 2017, registro que a mãe dela morreu lutando para ter e suas duas irmãs desistiram. 

“Minha irmã mais velha agora conseguiu um emprego de babá, mas sempre pescou. A minha irmã Fernanda também tem seu emprego fora, mas também sempre pescou. Eu estou esperando meus filhos crescerem mais pra voltar a pescar todos os dias. Agora só vou aos fins de semana”, disse a pescadora. 

Irani tem dois filhos: a Emanuelly, de 2 anos e 5 meses; e o Estevão, de 1 ano e 1 mês.

Para ela, a vida nunca foi fácil. Ela e as irmãs já sofreram muito preconceito por serem mulheres na pesca. Ela relata que no mar, alguns homens não têm respeito pelas mulheres ou pelos próprios colegas homens. 

“Me chamavam de macho fêmea, antigamente era assim que se dizia. Mas nunca me importei com isso pois sempre soube que seria a mulher forte e guerreira que minha mãe me ensinou a ser”, relembrou Irani.

Apesar dos desafios, ela persiste na atividade e entrega seus peixes para compradores locais, que distribuem para mercados de várias regiões. 

“Várias vezes quando vem temporal de chuva e vento e raios… meu Deus, é horrível! Não dá pra chegarmos na Praia. O barco quase vai a pique [afunda], mas quando avistamos à beira da praia dá um alívio. Ao colocar os pés no chão a gente treme pior que vara verde, mas vencemos o medo e o preconceito e sempre estamos lá no mar fazendo o que amamos, trazendo o sustento pra nossa família”.

E a luta não é só pela sobrevivência, mas também pela preservação da laguna, que é o sustento de muitas famílias. 

A pescadora sabe que a educação é fundamental para garantir um futuro melhor para seus filhos e quer que eles façam a diferença. Mas, acima de tudo, quer que eles tenham orgulho da mãe e da avó que lhe ensinou a ter sabedoria mesmo sem saber ler e escrever. 

“Peço a Deus que eles tenham orgulho da mãe pescadora, assim como eu tenho orgulho da minha mãe. Uma mulher simples mas de uma força de que só quem conheceu Dona Marilia sabe do que estou falando”.

Essas mulheres são exemplo de força e superação, e mostram que não há limites para o que as mulheres podem conquistar. 

“É difícil, mas de uma coisa eu sei: sempre terei orgulho de ser uma mulher pescadora”, completou.

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